Olá, pessoal. Tudo bom? O que me contam hoje?
Por favor, leiam as notas finais. É importante!
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Pegue uma coca, um suco ou uma cerveja e divirta-se! Boa leitura.
***
| RECAPITULAÇÃO |
No capítulo anterior, a reclusa Bella bateu à porta do novo
vizinho barulhento e acabou reconhecendo-o. Ela começou a acreditar que Edward
era o personagem central do romance que sua irmã escrevera na adolescência. Já
Edward, confuso com as reações exageradas da moça, procurou a síndica do prédio.
A Sra. Strauss contou-lhe que a garota era conhecida pelo apelido de “a neurótica do
12”, e que há dois anos não saía do prédio. Também explicou que a vizinhança se
incomodava com presença dela e planejavam enxotá-la através de um abaixo-assinado.
Cada vez mais intrigado, Lucky quis saber sobre a urna mortuário que viu na
casa de Bella. Embora a síndica não tivesse certeza, alegou que as cinzas
pertenciam ao noivo de Bella. E que, talvez, ela o tivesse matado
acidentalmente — o que explicaria seu estilo de vida incomum.
Guiada somente por sua intuição, Bella pediu a ajuda da diarista
Alice para atrair o homem até elas. A diarista alegremente invadiu o apartamento
de Edward e roubou-lhe o celular. Chateado com a invasão, ele explodiu numa
discussão com Bella, o que resultou numa desajeitada confissão da jovem:
— Minha irmã escreveu uma história sobre a sua vida.
Considerando Bella completamente insana, Lucky decidiu ignorá-la,
mas foi seguido por ela até a saída do prédio. Ele confirmou naquele momento parte
dos boatos a respeito dela, pois a garota não ousou transpor as portas.
***
Salve o Herói!
Capítulo 2 - Quando a Sorte Bate à
Porta
| Narração Bella |
Praticamente
rastejei de volta pra casa e Alice foi trabalhar. Quando fechei a porta da
frente, a inquietação que me torturou durante a madrugada retornou. Fiquei
frustrada, pois eu vi Edward, toquei em seu cabelo, até discuti com ele, e
ainda assim não me deu ouvidos. Como todos os outros me taxou de louca. Tudo
bem, talvez eu fosse, mas às vezes, até os loucos têm razão.
— E eu
tenho! — declarei marchando para a cozinha.
Incrivelmente
determinada, arrastei a mesa da cozinha até a sala produzindo um esganiçado
barulho. Posicionei-a entre uma janela e a lareira e fiz o mesmo com uma das
cadeiras. Sobre a mesa, coloquei meu notebook e uma garrafa de água.
Acomodada na
cadeira e com o Word aberto, decidi fazer uma resenha do romance de Helena, uma
fraca reprodução, ou qualquer coisa que lembrasse seu manuscrito. Já que o novo
morador não queria me ouvir, talvez o convencesse a “me ler”. Ainda que eu
captasse apenas alguns fragmentos, tinha a esperança de que um deles
persuadisse Edward a querer saber mais. Ansiava somente por seu interesse para
obter algumas respostas.
Apesar de
ter esquecido o enredo de vários livros que li no colégio, lembrava-me muito
bem do de Helena. Talvez porque me sentia íntima da história. Relemos o romance
tantas vezes que, só de abrirmos o diário, sentíamos como se também abríssemos
uma janela para outro mundo. Enxergávamos ali o que ninguém mais enxergava. Um
garoto que poderia ser o que quisesse, pois nele havia a força e a coragem que
eu, particularmente, sempre sonhei possuir. Era como se ele tivesse uma
habilidade especial para sair ileso de qualquer situação, por mais trágica que
fosse. Coisa que nunca fui capaz.
Olhei para o
teclado sem saber como começar. Forcei a memória, tentando encontrar um caminho
até o primeiro parágrafo, o qual só ressurgiu na minha mente quando busquei no
Youtube por uma música específica. Imaginei que aquela seria uma das muitas
músicas que Lucky costumava ouvir em seu Walkman.
Mais cedo do
que previ, meus dedos começaram a se mover e escutei o soar deleitante das
teclas. Simplesmente estava acontecendo.
...
Na pequena Englewood, do condado de McMinn, Tennessee, vivia um
garoto de 12 anos aparentemente igual aos outros. No entanto, ele se destacava
pela mistura inflamável de coragem, insensatez e persistência. Sua
personalidade ainda não totalmente desenvolvida já dividia opiniões entre seus
professores e familiares.
Às 2h da manhã, Edward Cullen — apelidado pelos colegas de Lucky
—, escapou de casa, pegou sua bicicleta e desceu a rua. O jovem de cabelos loiros,
bagunçados e cheios de gel, usava uma bandana preta amarrada na testa como seus
ídolos do rock dos anos 80. Seu gosto musical fora completamente influenciado
por seu irmão mais velho, Desmond. Este se envolveu com um grupo de infratores
da cidade de Athens. Com eles praticou uma
série de assaltos no condado, o que resultou em uma perseguição policial até Englewood
seguida de uma troca de tiros onde Desmond foi mortalmente alvejado. Mesmo
depois de um ano, o caso ainda repercutia na cidade com cerca de 1.600 habitantes. Um lugar
onde todos se conheciam e segredos dificilmente prevaleciam.
Enquanto o Sr. e Sra. Cullen — presos no luto —, se resguardavam
em casa, das fofocas e olhares preconceituosos, seu filho caçula enfrentava a
todos do seu jeito. Ele acreditava que quanto mais as pessoas o temessem, mais
seguro estaria. O garoto não estava de todo errado, pois quando assumiu uma
postura rebelde, os que antes implicavam com ele logo se afastaram. Contudo,
isso solidificou a ideia da população de que nenhum dos Cullen prestava. Alguns diziam “isso é culpa da má criação”, outros “é o sangue ruim”,
mas Carlisle e Esme eram pais muito bons, e nada de errado havia no sangue
deles.
Virando a esquina, Edward parou a bicicleta em frente à casa de
seu melhor amigo Emmett McCarty, popularmente conhecido pelo apelido de Mata-gato.
Emmett ganhou o grudento apelido na terceira série. Um dia uma garotinha
escondeu seu animal de estimação na mochila para mostrá-lo aos colegas de
classe. Naquela manhã, assim que a professora se ausentou da sala, a garotinha
foi procurar o filhote na mochila e não o encontrou. Não demorou para que todos
os alunos começassem a vasculhar a classe em busca do animal. Emmett, no
entanto, estava mais preocupado com seu lanche. Não suportando aguardar até a
hora do recreio, pegou da mochila o sanduíche que sua mãe preparara e foi comer
escondido na última carteira. Ele encarou guloso o monte de pão, ovo e maionese
e tascou uma mordida largando-se com tudo na carteira. O que se ouviu depois
foi o derradeiro e sofrido miado do gato.
Assim nasceu o eterno remorso de Emmett, que apesar de estabanado,
sempre teve um bom coração.
Emmett, com também 12 anos, ouviu o assobio do amigo e saiu detrás
de um arbusto. Segurando as calças frouxas, correu ao encontro dele.
“Cadê sua bike?”, Edward perguntou confuso.
“Não deu pra tirar ela de casa sem fazer barulho, mas fica frio.
Eu vou aqui na frente.”, disse Emmett já sentando o bundão no guidom.
Edward colocou os fones de ouvido, apertou o play do Walkman e
começou a dar as primeiras e sofridas pedaladas. Dois minutos depois, quase sem
fôlego pelo grande esforço, reclamou:
“Que merda, Mata-gato! Quanto você tá pesando?”
“Não sei, minha mãe falou que eu tou crescendo rápido.”
“Crescendo rápido pros lados?!”, Lucky forçou mais uma pedalada.
Com dificuldades para continuar, o pobre coitado perdeu o
equilíbrio e a bicicleta foi ao chão com os dois. Emmett rolou para um lado e
Edward para o outro.
“Assim não vai dar, meu chapa!”, o gordinho se ergueu, puxou do
bolso um pente e arrumou o cabelo volumoso. “Levanta seu macarrão com pernas!
Eu é que vou te carregar.”
Os garotos seguiram pelas desertas ruas de Englewood, até chegaram
à casa da Sra.Thompson. Além de rigorosa professora de matemática da Englewood
Elementary School, ela também era a primeira dama da cidade.
Influenciados por filmes juvenis e pela inocência da idade, Edward
e Emmett acreditavam que seria fácil invadir a casa da professora. O plano era:
encontrar as provas que ela trouxera para corrigir, e alterá-las com a ajuda
das respostas de outros alunos.
Eles encostaram a bicicleta no muro baixo e saltaram por cima dele.
Edward disparou pelo jardim escuro enquanto seu amigo gorducho arrastava-se,
arquejando e segurando as calças. Juntos deram a volta no casarão, estudando
todas as entradas. O duplex era no estilo colonial, com várias janelas. Quanto
à faixada, era toda em branco e azul marinho, semelhante a muitas outras casas
da rua.
Na lateral da casa, eles forçaram algumas janelas, mas estavam
trancadas. Edward, se recusando a desistir, deu a volta e encontrou uma janela
destrancada. O problema foi que não conseguiu ergue-la completamente. Parecia
emperrada.
“Não dá pra abrir mais que isso”, ele informou insistindo no
arrombamento.
“Deixa, dá pra passar”, Mata-gato o empurrou para o lado e puxou
do bolso uma pequena lanterna.
A passagem era estreita demais e, qualquer um com um pingo de
juízo, perceberia que o gordinho não passaria ali. Sem pensar duas vezes, ele se
aventurou e acabou entalado, chacoalhando pernas e braços.
“Ai, caceta!”, Emmett sussurrou choroso. “Sei não, acho que
entalei.”
“É? Não diga?!”, Edward revirou os olhos, chateado. “Aguenta aí. Vou
te tirar.”
Ele agarrou firme a barra da calça do amigo, tomou fôlego, e com
toda a sua força o puxou. O susto dos dois foi grande quando Lucky rolou para
trás apenas com o jeans do Mata-gato nas mãos.
“É nessas horas que a gente entende a importância de uma cueca”, Lucky
murmurou de olhos arregalados. Por um segundo quase riu da samba canção com
estampa da Família Dinossauro.
“Cara, não é por nada não, mas quando eu desentalar daqui vou
pegar essa lanterna..” bufou enervado, depois completou aos berros. “E VOU TE
MATAR DE PANCADA COM ELA!”
O barulho despertou os moradores. A casa, incluindo o jardim,
ficou completamente iluminada.
“Ai, meu Deus! Isso não tá acontecendo comigo”, Mata-gato começou
a chorar. “Fuja, Lucky! Fuja! Salve sua vida!”, gritou entre soluços. “Mas
deixa aí um chocolate, alguma coisa, porque depois dessa, minha mãe vai me
mandar pro acampamento de gordos... Eles vão me obrigar a malhar!”
Muitos garotos no lugar de Edward teriam abandonado o barco, mas
ele nem por um segundo considerou a ideia. Pelo contrário, posicionou-se junto
a Emmett e encarou o prefeito que apareceu armado com uma espingarda.
O Sr.Thompson imediatamente reconheceu os garotos e baixou a arma
com um olhar gélido e reprovador. Ele não deixaria barato aquele delito e Lucky
tinha total consciência disso. Entretanto, o nervosismo que sentiu não foi por
medo da reação de seu pai. O que o preocupava era Emmett, que se borrava de
medo do padrasto. E com razão. O Sr. Davis era homem da pior estipe, que nunca
hesitava na hora de tirar o cinto e espancar o enteado.
Com um nó preso na garganta, Edward ouviu o prefeito ordenar à sua
esposa que desse alguns telefonemas. Em meio ao falatório e a preocupação, o
jovem avistou uma garota que parecia ter a sua idade. Ela se aproximou da
primeira dama, com um olhar meio assustado. O menino nunca a vira antes e todos
sabiam que os Thompson não tinham filhos.
Por razões que Lucky ainda não compreendia, não conseguiu desviar
o olhar da menina. Ela tinha cabelos cacheados tão longos e dourados que
pareciam ouro. O rosto delicado como de uma boneca de porcelana era o mais bonito
que ele já vira.
Diferente da maioria dos meninos de sua idade, Edward não gastava
tempo pensando em garotas. Só queria tocar a guitarra de seu irmão na garagem
de casa e jogar basquete apostando o dinheiro do lanche. Mas, naquele momento,
pela primeira vez, ele sentiu um frio no estômago. Uma ansiedade diferente o
fez imaginar que estava doente, porque até suas mãos começaram a suar. Negaria
mil vezes, mas a verdade era que nem o flagrante casou tamanha inquietação dentro
de seu peito como aquela desconhecida menina.
Infelizmente, por puro azar, Lucky só descobriu o nome da garota
quando voltou a vê-la três anos depois. Claire Heine foi morar com sua tia, a
Sra.Thompson, e passou a frequentar a Mcminn Central High School junto com
Edward, Emmett e uma grande parte dos jovens do condado. O ano letivo estava
apenas começando e com ele um desenrolar de acontecimentos que mudaria a vida
dos três.
...
Compenetrada,
parei de digitar e fiquei olhando imóvel para a tela do notebook. Sabia que não
estava sendo completamente fiel ao manuscrito original, mas como co-autora, consegui
extrair de minhas lembranças a essência da história de forma surpreendente. Só escrevi
poucas páginas e foi o bastante para perceber que a maior diferença
encontrava-se no meu modo de narrar. Relevando isso, sentia que Helena
aprovaria aquela versão. A minha versão.
— Muchacha
do céu, tu não vai acreditar! — Alice rompeu porta adentro, assustando-me.
Procurei me
acalmar enquanto ela disparava em minha direção. A destrambelhada estava suada
e ofegante como se tivesse corrido uma maratona. Seus olhos esbugalhados pelo
frenesi até me amedrontaram.
— Ele tá
aqui! — a diarista agarrou os meus ombros. — Jasper Hale!
— Quem? —
franzi o cenho, perdida.
— O ator, o
ajuramentado amor da minha vidinha, o foderoso
em pessoa: Jasper Hale! — papagueou desvairada. Depois me largou para
rodopiar se abraçando.
— O amor da
sua vidinha não era o cantor Ne-yo? — fiz pouco caso.
— Sem avacalhamento!
Isso foi semana passada, dá um tempo. Tou tão carente que até depilação pra mim
é carinho — bufou, contrariada. — Remelenta, o que importa agora é que Jasper
Hale está nas redondezas.
— Por que
alguém famoso se mudaria para cá? — duvidei, fechando o notebook.
— Bem, ele
não é exatamente famoso agora. Na
verdade, só trabalhou em uma série de tv anos atrás. Não se lembra do College
Dreams? Era bem parecido com Dawson's Creek e Barrados no Baile — minha amiga
transpirava ansiedade e não queria decepcioná-la.
— Ah, claro.
Lembro — menti.
— Quando eu
tinha 16 anos era virada na loucura por Jasper. Na parede do meu quarto tinha
um monte de pôsteres dele que eu beijava todos os dias — a criatura não parava
quieta. — E agora, como um doce tabefe do destino, o garboso se muda para o
prédio — dramaticamente escancarou os braços. — Solamente pra me conhecer! Oh, Dios mío!
— Espera!
Espera! Espera! — protestei levantando-me. — Como assim solamente para te conhecer?
— Ué, a
madame Rose disse que esse ano vou me casar. Por favor, né?! Não é preciso ser
muito inteligente para entender que ela estava prevendo a chegada de Jasper.
Boquiaberta,
pela primeira vez tive vontade de bater a cabeça da minha amiga contra o chão.
— Madame
Rose? A loira estelionatária do primeiro andar? A golpista que finge ser
vidente? — fiquei realmente aborrecida. — Alice, aquela mulher é a maior safada
de Manhattan.
— Madame
Rose sabe das coisas. Devia marcar uma consulta. Dizem que ela traz a pessoa
amada em sete dias — respondeu virando o rosto, incapaz de ceder ao bom senso.
— É o fim — gemi cobrindo o rosto com as mãos.
— Não. É o
começo — Alice recuperou a empolgação e voltou a chacoalhar os meus ombros. —
Tudo vai dar certo daqui pra frente.
Desejei
abrir a cabeça da diarista e derramar um pouco de juízo e discernimento ali,
mas Alice era ingênua e sonhadora. O tipo de pessoa que prefere fechar os olhos
e se machucar, a ser alguém racional que limita as próprias expectativas.
— E você já
se apresentou ao seu futuro marido? —
zombei.
— Ai, que
droga! — me empurrou. — Vim correndo te contar e esqueci — esclareceu aflita. —
O que devo fazer?
— Olha pra
mim. E eu é que sei? — suspirei.
(...)
Fui coagida
por Alice a acompanhá-la até o andar de Jasper. Por coincidência, o mesmo de
Edward. Das escadas espreitamos dois carregadores saindo do último apartamento
do corredor. Enquanto eu não conseguia disfarçar o desânimo, minha amiga
praticamente quicava no degrau. Acreditei que a qualquer momento ela sairia flutuando
rumo ao apartamento, igual a um desenho animado.
— Lá está
ele — Alice sussurrou, cutucando-me. — Vê que homem de lamber os beiços?
— Haham —
murmurei analisando-o.
Mexendo no
celular, o ator deteve-se diante da porta de casa. O rapaz pálido de baixa
estatura e esbelto, usava uma calça cinza e uma camiseta preta com a seguinte
frase: Keep Calm and ... Not Touch Me.
O individuo de
vinte e poucos anos, era até bonito, mas não em nível hollywoodiano. Parecia só
um cara comum, do tipo que andava pelas ruas de Manhattan sem chamar a atenção.
— Tem
certeza que ele já foi famoso? — insisti sem reconhecê-lo.
Alice não
respondeu, pois abandonou rapidamente o esconderijo. Ela desfilou ao encontro
do homem e só me restou segui-la. Quando ficamos a poucos passos dele, a louca
desenterrou seu lado tiete, que explodiu bem na cara do desavisado.
— Nuestra
Señora de las criadas! — vozeou desinibida. — Jasper Hale, eu sou sua fã! Nem acredito
que tou te conhecendo. Por favor, me dá um autógrafo. Assina o meu Ipod, a
minha blusa, a minha cara... — ela soltou uma risadinha estendendo a caneta.
Um tanto
surpreso, o ator primeiro nos estudou para só então responder:
— Claro, por
que não? — mantendo a maior distância possível, pegou a caneca e assinou a
testa da boba. — Agora você — virou-se para mim.
— Não
precisa — rejeitei o exagero.
— É sempre
interessante interagir com os meus fãs — sorriu torto e devolveu a caneta. —
Para um artista, a opinião de seus seguidores é essencial — cruzou os braços. —
Gostaram do meu último longa-metragem?
Alice e eu
trocamos um olhar confuso.
— Achei que
só tinha trabalhado no seriado College Dreams — a tonta se justificou.
— Humpf! —
arrogante, ajeitou a aba do chapéu. — Já era de se esperar que não conhecessem
o longa por ser considerado cult. A Experiência
Maldita não é um filme para qualquer um. Foi exibido apenas na Tanzânia.
— Sério? —
estreitei os olhos já o considerando um mala. — E o filme fala sobre o quê?
— Basicamente
— o vaidoso começou a explicar com seriedade. — Interpretei um cientista que
acidentalmente expôs um legume, mais precisamente um chuchu, à radiação. O
drama se desenrola com a mutação se voltando contra mim.
— O quê? —
quase explodi numa risada. — O filme é sobre um chuchu assassino? — não deu pra
mim. Tapei a boca para conter a gargalhada.
— Se insiste
em vulgarizar — o “artista” se ofendeu.
— Deve ser
fascinante — Alice me fuzilou com o olhar.
— Me diz.
Quem comeu quem no final? — debochei.
— Gente
inculta! — injuriou-se Jasper, O estrela decadente, antes de se refugiar no
apartamento.
— Que droga,
Bella! — Alice ralhou. — Você humilhou o meu foderoso.
— Querida —
tratei de defender-me — Ele contracenou com um chuchu maléfico. Vai pagar-pau
pra humilhação até morrer.
Sem
argumentos e frustrada, minha amiga deixou-me falando sozinha. Precisei correr
para alcançá-la.
— Não fique
triste — passei um braço em volta dos seus ombros.
— Não tou
triste. Só em dúvida se Jasper gostou de mim. O que você acha?
— É muito
cedo pra saber — respondi honestamente. — Talvez ele ainda não esteja preparado para você. — por causa do silêncio que se formou,
necessitei consolá-la. — Tem frango frito na geladeira. Quer?
— Claro, por
que não? — animando-se, ela fez das palavras de Jasper as suas.
(...)
| Narração Edward |
Peguei o
metrô até o Central Park. Na primeira banca de revistas que encontrei, comprei
um maço de Marlboro. Por costume,
comprei também um bilhete da New York Lotto. Para manter a tradição escolhi a
mesma combinação de números que vinha apostando nos últimos dez anos. Loteria
nunca foi o meu forte; apostar sem pensar, isso sim.
Coloquei meu
velho Ray-Ban. Acendi um cigarro e
guardei outro atrás da orelha para fumar em seguida. Todos os meus vícios
idiotas costumavam se manifestar diante de preocupações.
Caminhando
pelo parque, entre turistas, corredores ocasionais e regulares, crianças e
cachorros, segui para o Oeste. Andava só por andar, sem destino certo. Necessitava
de ar, de luz do Sol e exercício.
Parte de mim
acreditava que estava seguro em N.Y, enquanto a outra parte permanecia alerta,
sem nunca relaxar. Semanas atrás não tive escolha senão abandonar São Francisco.
Afinal, ninguém em sã consciência esperaria calmamente ser cobrado por Joey Buffalo.
O conhecido promotor de lutas ilegais e dono de uma casa de Poker, não costumava
sentar para conversar com maus pagadores. Muito menos um que acumulou uma
dívida de 25 mil.
Ainda estava
inteiro, mas vivendo sob a expectativa de que, a qualquer momento, tudo desse errado.
Por conhecer a reputação de Buffalo, sabia que ele me trataria como muitos
outros azarados que cruzaram o seu caminho. Falo de ter os órgãos perfurados
por costelas quebradas e dentes brutalmente arrancados; e de suportar socos e
chutes até virar um amontoado de carne, sangue e ossos esmagados. Não importava
se merecia esse final, mas sim safar-me dele. Já estive metido em todo tipo de
situação complicada e sobrevivi. Dessa vez não podia ser diferente.
Tânia, minha
última namorada, considerava-me um homem irremediavelmente errado. Ora essa! O
que ela esperava de um cara que junto com o melhor amigo fugiu de casa aos 16
anos? Não é que eu fosse má pessoa. Apenas tinha o péssimo hábito de me
envolver com apostas arriscadas e mulheres problemáticas. Esse foi um dos
motivos que me levaram a mudar tão jovem do Tennessee para a Califórnia.
No começo
foi muito bom. Emmett e eu tivemos diversos empregos. Trabalhamos como manobristas,
às vezes garçons e finalmente bartenders — o que somos até hoje. Por um tempo
tivemos a melhor vida do mundo. Sem nenhuma preocupação ou amarras. Tocávamos a
farra todas as noites e comemos metade das mulheres de São Francisco.
Lamentavelmente,
quando completei 25 anos, essa rotina desregrada passou de ótima à
insatisfatória. Eu queria mais da vida, só não sabia exatamente o quê. A ideia
de um futuro trivial com casamento e filhos não me agradava. Nunca fui desse
tipo. Foi aí que comecei a frequentar a casa de poker e o ringue clandestino de
Buffalo. Em pouco tempo, deixei de fazer inocentes apostas esportivas para
ganhar e perder na mesma proporção nos domínios dele. Rapidamente, amizades
perigosas, noites de bebedeira e o azar, deixaram-me numa quase sarjeta. Minha
vida começou a parecer a música Wanted
Dead Or Alive do Bon Jovi:
“Às vezes eu durmo, às vezes não por vários dias. E as pessoas que
conheço, sempre seguem caminhos diferentes. Às vezes, você conta os dias pelas
garrafas que bebe e quando está sozinho, tudo que faz é pensar.”
Minha
momentânea salvação só surgiu quando Billy, um colega da noite, decidiu
inaugurar em N.Y uma boate chamada Break
The Ice. Ele convidou Emmett e eu para assumirmos o bar e cobriu as
despesas da mudança. O cara não bancou o bobo. Posso até ser um terrível
apostador, mas, sem dúvida, sou um excelente Bartender. Um dos mais criativos da
Costa Leste. Já cheguei a ganhar mil dólares em gorjeta em apenas uma noite. E agora
pretendia lucrar muito mais na Grande Maçã.
Graças a
minha habilidade com garrafas e mulheres, consegui o que precisava: tempo. Sei
que mais cedo ou mais tarde Buffalo me encontrará. Tendo isso em mente, meu
plano se resume em liquidar a divida antes, para evitar o pior.
Perdido em pensamentos,
caminhei bem mais do que pretendia. Esgotei-me chegando ao memorial Strawberry
Fields. O pequeno “santuário” era uma homenagem à John Lennon, que foi assassinado
do outro lado da rua — em frente ao prédio onde morava. No chão, um grande
mosaico formava a palavra Imagine.
Havia ali flores, cartões e pequenas lembranças, reafirmando para os músicos e
fãs ao derredor, a importância do memorial.
Por alguns segundos,
fiquei apenas observando. Então lembrei que carregava uma palheta no bolso da
jaqueta. Agachado, peguei a palheta e respeitosamente a coloquei na borda do
mosaico.
Quando
levantei, ouvi o toque do meu celular. Considerando que o número era novo, só
podia ser uma pessoa. Peguei o aparelho e prontamente atendi.
— Fala, Mata-gato
— sorri brevemente, voltando a caminhar.
— Diz aí,
cabelo de urso — vozeou o malandro. — Tenho boas novas.
— Conta
então.
— O Sr.
Berry já arranjou um cara pra me substituir no bar. Se tudo der certo, amanhã
desembarco em Manhattan.
— Ótimo — falei
aliviado. Temia pela segurança de Emmett. Embora Buffalo não o conhecesse,
existia uma possibilidade de meu rastro levar o promotor até ele. — Está tudo
bem?
— Tou de
boa, cara. Sem drama! E o apê novo? É bom?
— É um lugar
bacana — garanti. — Só os vizinhos que não são grande coisa — lembrei-me da
neurótica do 12. — Tirando isso, até que Billy nos arranjou um lugar legal,
quase todo mobiliado.
— Fechou
então! — respondeu otimista. — E as amizades? — investigou em tom malicioso.
— Conheci
algumas garotas na noite. Nada de importante — desconversei. — Dentro de uma
hora vou me encontrar com Billy. O Break
The Ice será inaugurado nesse sábado, então esteja aqui amanhã ou acabo com
você!
— Já que tá
pedindo com carinho... — debochou. — Agora eu tenho que arrumar as malas. Logo,
logo tou desabando por aí.
— Se cuida —
enfatizei antes de desligar.
| Narração Bella |
Já passava
da meia noite e eu ainda insistia em recontar o sonho de Helena. Não estava
sendo fácil, pois não fluía como acontecera pela manhã — após a discussão com Lucky.
Começava a acreditar que qualquer contato com ele funcionava como um gatilho,
que destravava minha memória e me impulsionava a provar a existência do
romance.
Com o
notebook no colo, peguei a garrafa de água do chão e destampei-a. No momento em
que encostei o bocal da garrafa nos lábios, passos no corredor roubaram a minha
atenção. Avistei Edward caminhando ao meu encontro. Ele estava surpreso. Na
verdade, mais que isso, ficou bestificado, por me encontrar sentada numa
cadeira de praia em frente ao seu apartamento. Tomei um rápido gole da água e
fiquei de pé para recebê-lo.
— Noite boa,
seu moço? — puxei conversa atenta ao fardo de cerveja que ele carregava.
O pinguço
esfregou os olhos só para ter certeza de que eu não fazia parte de um delírio
alcoólico.
Eu estava
bem mais centrada dessa vez — sem soltar nenhum gritinho histérico —, por isso
tive a oportunidade de examiná-lo melhor. Notei que em suas feições o que se
destacavam eram os olhos estreitos, as sobrancelhas ligeiramente arqueadas; as
linhas de expressão na testa e a barba por fazer. Essas características se
moldavam ao temperamento arredio de Lucky. Ele parecia uma mistura intrigante
de Jared Leto e Kurt Cobain. Atraía e ao mesmo tempo repelia.
— Era só o
que me faltava... Não pode acampar aqui! — ele explodiu.
— Relaxa,
não é o que parece — me defendi.
— Mesmo? Porque
parece que montou vigília pra me obrigar a conversar com você.
— Ah... Então
é o que parece — admiti sem graça. — Quer água? — mudei a abordagem.
— Não.
Edward
posicionou-se em frente à porta e começou a vasculhar os bolsos atrás das
chaves.
— Quer ir ao
meu apartamento? — convidei com a melhor das intenções.
— Não me leve
a mal, mas isso eu passo — rejeitou com uma quase risada, como se a ideia fosse
por demais absurda.
— Quer...? —
nem completei a pergunta, pois o bruto me silenciou colando o indicar em meus
lábios.
— Escuta.
Obviamente assim que me conheceu começou a projetar algumas fantasias em mim — fixou
os olhos nos meus e continuou com a indelicadeza. — Talvez nem seja culpa sua. Assim
sendo vou explicar pela última vez. Não sou personagem de porcaria nenhuma. Não
apareço sem camisa em capa de livrinho de banca de revista. E, definitivamente, não vou fazer um sexo
ardente com você.
Bastou Lucky
se afastar para o meu queixo despencar. Minhas bochechas arderam pela vergonha
e minha voz arrumou as malas e partiu. Que
embaraçoso! O cara pensava que eu o enxergava como um machão de contos
eróticos. Juro que pretendia refutar as acusações. Isso se o imbecil não
tivesse encerrado o assunto entrando no apartamento e batendo a porta na minha
cara. De novo!
Dividida
entre o ódio e a obrigação, cruzei os braços e baixei a cabeça. Como? Como não
detestar Edward Cullen? O homem era um verdadeiro cavalo batizado. Mais mal
educado que ele só dois dele.
Cansada,
recolhi o notebook e coloquei-o embaixo do braço. Ao me inclinar para pegar a cadeira,
vi um pedaço de papel no chão, próximo à porta de Lucky. Imediatamente estiquei
o braço e apanhei o que logo percebi ser um bilhete de loteria. Certamente o
compulsivo apostador deixou o bilhete cair enquanto procurava suas chaves. Fiz
o favor de guardar o estúpido bilhete no bolso do pijama para devolvê-lo
depois, ou simplesmente jogar fora — o que julguei ser o apropriado.
Regressei para
casa ainda me remoendo de raiva do vizinho. A hostilidade com que me tratava
não tinha justificativa. Muito menos a petulância em insinuar que eu alimentava
fantasias sexuais com ele. O individuo merecia ser colocado em seu devido
lugar. Uma coisa era ele não me entender e me evitar — como o restante dos
moradores. E outra bem diferente era me tratar feito lixo. Só porque sou
diferente não significa que não tenha sentimentos. Ou que não mereça um pouco
de educação.
Quando dei
por mim, já havia jogado minha tralha em cima do sofá e pego na mesa de centro
um pincel pilot. Era madrugada, eu estava inquieta, ultrajada e não me
conformava em ter que engolir mais sapos. Necessitava revidar para me impor, portanto,
não me refreei, o que resultou na minha pessoa criando mais boatos, ao retornar
correndo para o andar de Lucky.
Esbaforida,
parei diante do apartamento 21. Olhei em volta e aproveitei a completa ausência
de testemunhas. Num impulso, destampei o pincel preto e escrevi em letras
garrafais na porta branca: AQUI MORA UM
PEIDO DO DIABO. NÃO FALE COM ELE!
Estava
feito. Nada mais eu podia fazer além de voltar para casa e dormir. Mas dormir bem satisfeita.
(...)
O sol já
devia estar a pino em Manhattan quando o meu sono foi interrompido. O que
escutei foi uma salada sortida de palavrões provindos do andar de cima. Meu
“gentil” vizinho vislumbrava naquele exato momento a inscrição em sua porta.
— Peido do
diabo — relembrei rindo descontroladamente.
Como não
estava mais chateada, pude apreciar a hilária situação. Pela primeira vez em
muito tempo, gargalhei a ponto de rolar da cama para o chão. Estatelada no piso
tive uma demorada crise de riso enquanto imaginava a expressão irada do burro
xucro.
Demorei a me
recuperar. Quando consegui cambalear até o banheiro, lavei o rosto e encarei o meu
reflexo no espelho. Nada tinha mudado em mim. Eu continuava o mesmo farrapo
humano.
Minutos
depois segui para a cozinha. Abri a geladeira pensando no quão incoerente era
minha relação com Edward. Gostava muito de sua versão adolescente, a do
romance. Em contrapartida, tinha aversão ao homem de carne e osso que, além de
truculento, não inspirava confiança.
Se não fosse
por minha constante e incansável intuição — inquietando-me como uma abelha
zunindo dentro do ouvido —, de certo que o deixaria em paz. Largaria mão de
qualquer teoria para não ter que rebaixar-me. Todavia, sentia que cabia a mim
nos conduzir rumo às respostas. Custasse o que custasse. Pelo antigo Lucky, por
mim e principalmente por Helena.
Preguiçosamente
peguei da geladeira uma caixa de suco e caminhei para a sala. Preparava-me para
matar a sede quando escutei um altíssimo berro vindo do andar de cima.
Sobressaltada, fitei o teto, que estremecia a cada pulo do vizinho.
— O que deu
nele agora?
| Narração Edward |
Extasiado escancarei
a janela, bradando a todo pulmão feito Jack Dawson:
— Woohooo!
Eu sou o rei do mundoooo! Yyyhaaaa!
— E eu sou o novo Papa! Yyyhaaaa! — um mendigo gritou da
calçada.
Segurando o
jornal, tropecei para trás, mais feliz do que jamais estive na vida.
Como todas
as manhãs tinha ido à cafeteria da esquina para comprar cigarros e café.
Enquanto esperava pela bebida, folheei um jornal que estava sobre o balcão.
Gigantesca foi a minha surpresa ao conferir os números sorteados na noite
passada pela New York Lotto. Embasbacado, primeiro fiquei olhando para os
números, e só depois li a notícia de que 3 bilhetes premiados dividiriam o prêmio
de 24 milhões de dólares.
Meu cérebro
mal concebeu a ideia de que os números que eu apostava religiosamente, enfim, tinham sido sorteados. Devido ao
choque, não esbocei reação à altura do acontecimento. Pessoas à minha volta
notaram minha súbita palidez e estranharam quando arrastei os pés para fora da
cafeteria.
Plantado na
calçada, senti de modo diferenciado o sol batendo no meu rosto. De repente, o
som indistinguível do tráfego, o pulsar da metrópole e o fervilhar das
multidões me desentorpeceu. Santo Deus! Eu estava vivo. Eu estava acordado. Eu
estava rico!
Com a
adrenalina explodindo nas veias, saí em disparada. Foi esbarrando em algumas
pessoas e desviando de outras que alcancei a portaria do prédio. Nem pensei em
aguardar o elevador. Ao invés disso, subi feito um foguete pelas escadas. Os
segundos nunca se passaram tão rápido. Quando me dei conta, já estava dentro de
casa, pulando e gritando, completamente pirado. Todos os meus problemas estavam
resolvidos, pois agora eu era um milionário.
— Um
milionário! — enfatizei, dando socos no ar.
Apressadamente,
saltei por cima do sofá para chegar ao quarto. Logo avistei o jeans que usei no
dia anterior, junto ao pé da cama. Esbaforindo, ajoelhei-me e apanhei a calça. Vasculhei
todos os bolsos e nada encontrei. Em segundos passei da mais pura euforia para
o mais puro desespero.
Tem que estar aqui! Tem que estar!
Suando frio,
decidi passar um pente fino no apartamento. Na esperança de que o bilhete
tivesse voado para debaixo de algum móvel, arrastei e ergui todos. Do closet e
do cesto de roupa suja retirei todas as peças para procurar nos bolsos. Catei
também no sofá, me livrando das almofadas e dando uma geral no forro. Na
cozinha abri as portas e as gavetas do armário. Olhei até mesmo na geladeira,
no fogão e dentro das panelas. Coloquei o apartamento abaixo. Meti a mão em
todas as frestas e joguei tudo quanto era quinquilharia no chão.
— Puta
merda! Isso não pode estar acontecendo — grunhi com as mãos na cabeça.
Sentei no
braço do sofá determinado a refazer mentalmente todos os passos do dia
anterior. Existiam inúmeros lugares onde eu poderia ter perdido o bilhete. Como
no Central Park; ou no metrô; a
caminho do Break The Ice; na loja de
conveniências onde comprei cerveja; talvez até em alguma rua enquanto voltava
para casa...
Inteiramente
esgotado, com a boca seca e as mãos trêmulas, fechei os olhos por um momento
para me concentrar. O que não adiantou nada, pois fui perturbado por uma batida
na porta. Reabri os olhos pensando ser Emmett, mas então lembrei que ele só
chegaria à noite.
Sem a menor
vontade, me levantei. Aproximei-me vacilante da porta e com um único movimento
a escancarei. Fiquei tremendamente frustrado ao dar de cara com a inoportuna
sujismunda do 12.
— Qual o seu
plano? — zangada, ela estreitou os olhos. — Fazer barulho até me matar de
raiva?
Pendi a cabeça
para o lado, avaliando se discutia ou se a ignorava.
— Não
começa. Só estou procurando uma coisa — expliquei.
Antecipando-me,
a vizinha colocou uma mão na porta para me impedir de fechá-la.
— Uma coisa? — encrespou o cenho, mexendo nos
bolsos do pijama. — Seria isso? —
mostrou-me o bilhete da loteria.
— Não
acredito! — exclamei dando um passo à frente e, em resposta, a garota recuou. —
É isso que procuro. Obrigado — tentei recuperar o bilhete, mas ela o escondeu
atrás do corpo.
— Então você ganhou? — indagou perplexa. — Por
isso estava gritando?
— Não é da
sua conta — agarrei-a pela manga do pijama. — Agora me passa o bilhete!
— Err... Não
vai dar — balbuciou antes de me dar um desajeitado soco no nariz. Em reflexo,
levei as mãos ao rosto.
Swan
aproveitou meus segundos de desorientação e escapou. Nem quis entender como o
bilhete fora parar em suas mãos, só pensava em recuperá-lo a qualquer custo.
Parti atrás
da demente. Estiquei o braço, certo de que lhe agarraria antes que descesse as escadas.
Infelizmente, nem mesmo cheguei a tocá-la, coisa que me irritou muito. Pulei
alguns degraus tentando diminuir a distância entre nós, mas a filha da mãe
praticamente voava escadaria abaixo como se tivesse asas nos pés.
— Essa droga
de bilhete me pertence! — reivindiquei alucinado.
Rompemos da
escadaria para o andar inferior, onde forcei meus limites conseguindo ficar a
centímetros da ladra. As pontas dos meus dedos chegaram a resvalar em seu
pijama. Eu a teria agarrado se não tivesse colidido com uma idosa que saía de
casa. Abraçada a mim, a pobre velha gritava completamente desnorteada.
Enquanto me
desvencilhava, assisti a insana trancafiar-se no seu apartamento com meu
bilhete premiado. Movido por um imenso ódio, empurrei a senhora para o lado e
me aproximei da porta 12.
— Não tem o
direito de fazer isso comigo, sua psicótica! Está me roubando! — estrebuchei
inconformado.
A princípio,
andei aflito de um lado para o outro, sem saber o que fazer. Cocei a cabeça
energicamente várias vezes até que me sobreveio uma ideia.
— Ei, moça?
— bati à porta. — O que acha de negociarmos? — aproximei o ouvido da madeira.
— Como assim?
— respondeu num tom abafado. Suspeitei de que me observava através do olho mágico.
— Que tal...
— cochichei pra não chamar a atenção dos vizinhos — embolsar 10% do que eu
receber? Sabe, como um agrado por ter encontrado o meu pertence — tratei de ser
persuasivo.
— O quê? — ela
replicou alto.
— Ô merda! —
bati a testa na madeira — Tá bom, você fica com 20 %. E olha que isso é muito —
negociei a contragosto. — Fechado?
— Tenho cara
de quem quer o seu maldito dinheiro? — ralhou chutando a porta. — Não preciso
dele!
— Não? — questionei
confuso.
Necessitei
de um instante para organizar os pensamentos. Logo julguei que, se a neurótica
vivia exclusivamente para adorar as cinzas do noivo num altar, e nem sequer saía
do prédio, não devia mesmo ser tão fã de dinheiro quanto eu.
É, complicou!
— Moça —
voltei a bater à porta. — Por favor, me diga o que quer.
— Só quero
conversar.
— Ótimo.
Devolva o bilhete e conversaremos o quanto quiser.
— Não confio
em você! — alegou de modo ofensivo. — Mas... — fez uma pausa. — Espere, já vou
abrir a porta.
— O que eu
fiz pra merecer isso?! — resmunguei dando um passo atrás.
Aguardei por
cerca de dois minutos antes de finalmente ouvir:
— Pronto.
Está aberta. Entre!
Girei a
maçaneta e fui empurrando-a vagarosamente. Espreitei através da fenda, mas não
avistei a vizinha. Por fim, abri completamente a porta e adentrei o mausoléu. O
lugar continuava o mesmo, excêntrico e pouco iluminado.
Muito mais
inquieto do que confuso, afastei-me três passos da entrada.
— Cadê você?
— indaguei alto.
— Estou aqui
— a resposta veio seguida do estalo da porta batendo.
Rapidamente
olhei para trás. Swan afastava-se da entrada segurando meu bilhete a
centímetros da chama de um acendedor de fogão. Não deu outra, entrei em pânico.
— O QUE TÁ
FAZENDO?! — gesticulei ferozmente. — Puta
que pariu, eu juro que vou te matar!
— Quieto! — ela
continuou se afastando. — Não se mova ou eu queimo seus milhões.
Estático, rangi
os dentes encarando-a com os olhos injetados. Desejei com toda a minha energia
jogá-la pela janela.
— Eu...
eu... preciso que fique calmo — a alienada parou, ficando a quatro metros de
mim. — Se você se comportar, terá seu bilhete de volta.
— Pelo amor
de Deus, fedorenta! Chega de maluquice! — implorei estressado. — Tem certeza de
que não quer um pouco da grana? Use o dinheiro para terminar de decorar o seu
apartamento — simulei complacência. — Compre umas caveiras. Quem sabe corvos e
lápides. Não é uma boa ideia?
— Cala a
boca! — exigiu zangada. — Se eu te der esse bilhete agora, é capaz de você
sumir no mundo. Não posso deixar isso acontecer. Não antes de...
— De...? —
investiguei.
A louca se
fechou em pensamentos, elaborando mais sandices. Fiquei tentado a agarrá-la
para reaver o bilhete, mas o medo de perder 8 milhões de dólares de forma tão
patética me refreou.
— Me diz,
Edward. O que faria para ter isso — balançou o papel — de volta?
— Qualquer
coisa — assegurei. Desesperado por uma ideia que me tirasse do sufoco, olhei em
volta e terminei encarando-a. — O que você quer? Que eu finja ser o
protagonista de algum livro? Algo do tipo... Cinquenta Tons de Cinza? — involuntariamente fiz uma careta.
Enlouquecendo-me,
a mulher começou a resmonear xingamentos inaudíveis, aproximando o bilhete da
chama.
— Desculpa!
Desculpa! — supliquei e ela deteve-se. — Tudo bem. Escuta, minha vida depende
desse prêmio. Então, o que quiser, terá. Prometo. Basta me entregar o bilhete —
estendi a mão.
— Faria mesmo qualquer coisa? — a sujismunda arqueou
a sobrancelha, desconfiada.
— Qualquer
coisa — confirmei.
(Continua...)
N/A:
Primeiro,
quero agradecer pelos comentários e pelas recomendações. Fiquei tão feliz de
saber que estão comigo nessa nova jornada! Sem vocês, com certeza, eu me
perderia. Então, por favor, comentem, façam observações, sugestões e podem até
puxar a orelha dessa escritora amadora.
Explicações:
Acho que
nesse capítulo, depois do telefonema de Emmett (Mata-gato), confirmou-se que o
Edward da história de Helena é mesmo o vizinho de Bella. Então a pergunta de como
e por que isso aconteceu ficou no ar. O legal aqui é que vão descobrir tudo
junto com os personagens. O que não vai demorar muito, pois daqui a 2 ou 3
capítulos, a fanfic vai dar uma outra guinada, ok? Mas garanto que no final
tudo ficará bem amarradinho. Confiem em mim! Continuem lendo que continuarei
escrevendo. Fechado?
Agora me digam o que acharam desse capítulo.
Grande abraço,
Lunah.